Grafistas: Os Alquimistas contemporâneos.
Os Alquimistas foram uns sujeitos que desde antes dos tempos de Cristo, em diferentes épocas e lugares (Mesopotâmia, Egito Antigo, mundo islâmico, Pérsia, Índia, Japão, Coréia, China, Grécia Clássica, Roma e Europa), e durante séculos e séculos tentaram entre outras coisas obter Ouro através de metais menos nobres como o Chumbo. Para isso usavam elementos da Química, Física, Astrologia, Arte, Filosofia, Metalurgia, Medicina, Misticismo, Geometria e Religião. Apesar de ser influenciada pelo conhecimento científico a alquimia nunca foi considerada ciência, e obviamente nenhum alquimista, mesmo aqueles que dedicaram uma vida inteira a esta atividade chegou nem perto de obter o desejado Ouro. Analisando friamente podemos crer que essas pessoas realmente passaram as suas vidas acreditando que através de técnicas rudimentares poderiam obter Ouro através de metais menos nobres.
Uma vez indagaram Benoît Maldelbrot, matemático francês de origem judacio-polonesa, o motivo de ele usar os dados do mercado de ações para testar a sua Geometria dos Fractais. Mandelbrot, uma cabeça 200 anos na frente da nossa, respondeu que utiliza os dados do mercado de ações por serem tão aleatórios quanto as variáveis naturais, ou seja, dificilmente na natureza ele acharia dados perfeitamente aleatórios em tamanha quantidade.
Atualmente milhares de pessoas dedicam-se a análise técnica de ações, pseudo-ciência que consiste em localizar padrões nos gráficos das ações para tentar lucrar no mercado, essas pessoas em sua maioria são leigos munidos apenas dos gráficos e de sua percepção e acreditam que podem vencer o mercado.
Em 2001 trabalhei numa dissertação de mestrado e alguns artigos científicos em que demonstrei que era possível através de técnicas estatísticas avançadas determinar a probabilidade de um cliente bancário tornar-se inadimplente através do seu cadastro. Animado com os resultados obtidos, posteriormente, de várias formas tentei aplicar as técnicas estatísticas utilizadas para prever a inadimplência bancária no mercado de ações brasileiro.
Revisei vários estudos e aperfeiçoei as técnicas estatísticas utilizando softwares de redes neurais. Coletei e depurei uma quantidade de dados imensa, na época o computador passava horas processando as correlações e os modelos para previsão. Tive que comprar um cooler especial, pois eram tantos cálculos que o processador esquentava a ponto de queimar (inclusive tive um processador bem caro queimado). O resultado era que analisando o passado alguns ativos tinham variáveis com correlação alta com o futuro, e fazendo o Backtest, ou seja testando o modelo desenhado com dados do passado, ele podia prever com maestria. O problema era o futuro: apesar de estar muito bem ajustado aos dados do passado, os modelos não conseguiam prever o futuro.
Esse problema é conhecido no mundo das redes neurais como hiperajustamento dos dados. Em outras palavras, testam-se tantas variáveis (centenas de milhares) que por coincidência algumas delas terão correlação alta com a previsão dos ativos, mas na prática fica diagnosticado de que aquilo foi apenas coincidência.
Desde a década de 90 diversos bancos e corretoras tentam através de computadores superpoderosos e caríssimos instalados dentro da bolsa de valores para ter uma vantagem mínima de tempo, junto com softwares de última geração e pessoas de QI estratosférico egressas das melhores universidades do país obter pequenos lucros através de operações quantitativas. Esses fundos denominados "quantitativos", apesar de todos os recursos descritos apresentam desempenho similar aos demais. Além deles existem uns cidadãos que vendem umas informações "furadas" pela internet. Os dados que recebo por e-mail de uma dessas empresas, por exemplo, apesar de alegar ter uma alta taxa de retorno, pelo que acompanhei só indicam operações perdedoras denotando que a taxa de retorno nas operações divulgada pela empresa é mais falsa do que uma nota de 3 Reais.
Tenho a opinião de que se realmente os gráficos indicarem por algum momento que existe uma oportunidade não será aquele rapaz espinhento que se formou aos trancos e barrancos naquela faculdade de segunda que vai descobrir. Vários estudos mostram que os grafistas tem rendimento médio menor que os índices de mercado (Ibovespa), mesmo assim muita gente continua trabalhando com seus graficos de apenas uma variável e mais gente ainda coloca dinheiro na mão desses sujeitos.
Hoje a academia científica, através da nova teoria das finanças inaugurada por Markowittz na década de 50 sabe que o mercado de ações é aleatório e tentar achar padrões nos gráficos com apenas uma variável se trata de uma espécie de alquimia moderna, portanto inócua, segundo a teoria o correto em um ambiente imprevisível e aleatório é diversificar os ativos usando correlações negativas para melhorar a relação risco-retorno, mas até que os leigos aprendam isso, talvez, assim como aconteceu com os alquimistas, demorem séculos procurando o ouro-de-tolo.
Comentários
Estude um pouco sobre jim simons ou larry williams e veja como existe grafistas de muito sucesso por ai. Citei apenas dois de milhares que existem.
Sinceramente parece um texto de alguém que leu um livro sobre análise técnica e foi aventurar-se no mercado de renda variável e seu deu muito mal.
Gostei muito do texto, tenho um grande interesse no assunto, mas uma grande dificuldade de encontrar material para estudo.
Que livro vc sugeriria ? Eu inicialmente dei uma olhada na teoria fundamentalista, li sobre o Warren Bufett, Ben Graham, etc...
Tenho lido também sobre economia, história economica, surgimento e funcionamento do sistema financeiro.
Mas queria alguma coisa mais prática, para poder entrar de fato no mercado de capitais, nunca investi nada( tenho investimento em imoveis).
Ja li memorias de um especulador financeiro do Livermore e estou lendo a Alquimia das finanças do Soros, o que acha destes livros ??
Abraços